sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Agradecimentos
A agradecer todos aqueles que nos apoiaram: nossas famílias em primeiro lugar, pessoas especiais que são nossa retaguarda física e espiritual e que nos ajudaram a suportar a distância.
Também aos amigos que nos incentivaram com mensagens de apoio e carinho durante nossa viagem.
Depois a todos os companheiros velejadores que por muitas vezes não passavam de pequenas luzinhas distantes e perdidas no meio do oceano, ou de vozes pelo VHF no silêncio da noite, mas que tanto de companhia representavam. Estes com quem tantas vezes vezes compartilhamos momentos agradáveis e experiências nos portos e marinas, nos churrascos e nas cervejadas,e pelos conselhos trocados em várias ocassiões. Melhor nem nominar alguém, pois certamente alguns seriam esquecidos, e que neste momento tomaram rumos diferentes, alguns devendo estar cruzando os oceanos em busca de novos conhecimentos, novos rumos e destinos.
Aos funcionários dos iates clubes (Serginho e Pancho no TENAB em Salvador - prontos a acolher e soltar as amarras dos navegantes que chegam e partem em busca de novos lugares)-, aos funcionários dedicados do Cabanga Iate Clube - Suely, Júnior e Rafaela na Secretaria e na organização da Refeno, além do grande e prestativo Marcílio, sempre presente e disposto a nos ajudar, todos nos propiciaram bons momentos em Recife. Ao comodoro Eduardo Moura do Aratu Iate Clube, juntamente com os fantásticos funcionários Rivelino e Adauto no suporte e logística aos velejadores. Em Ilhéus aos queridos Geovânio e Cacá, pela retaguarda e apoio. Agradecimento especial ao Iate Clube Vitória, pela hospitalidade e grande infraestrutura e apoio aos navegantes. Aos funcionários do Iate Clube do Rio de Janeiro, quase anônimos e que trabalham incessantemente para o bem estar de tantos, assim como ao Pierre e seu irmão em Búzios, jovens generosos e com tanto a oferecer aos que se relacionam com o mar.
Também o apoio e a organização da ABVC, sem os quais não teria sido possível chegar até Fernando de Noronha com tanta facilidade. Homens que dedicaram tanto de seu tempo e conhecimento para uma experiência única de outras pessoas.
Àqueles que deixaram seus projetos pessoais para se dedicarem aos outros, especialmente ao querido Ronaldo do veleiro Feitiço. Também aos nossos capitães de flotilha ao assumir responsabilidades que não eram poucas.
À Marinha do Brasil, pelo apoio durante a REFENO e sua enorme função de cuidar de nosso extenso litoral, com homens treinados e dispostos a salvaguardar a vida humana no mar. Pela especial paciência em Abrolhos, quando tantos visitantes invadiram as ilhas e souberam manter um clima cordial e amistoso.
Ao Teles, que com sua van da Nautos percorre o litoral brasileiro oferecendo ajuda e inestimável conhecimento aos velejadores.
Um eterno agradecimento à tripulação do Taouhiri e daqueles que compartilharam momentos bons e outros momentos duros, sem os quais nossa tarefa teria sido impossível. Ao filho Marcelo e ao amigo Rafa em especial na regata Recife/Noronha, que apesar da dureza da travessia sempre estiveram dispostos e mantiveram-se com bom astral todo o trajeto. Ao Daniel, que por razões particulares teve que sair do barco em Salvador, ainda na subida; ao Victor, em particular, pela companhia e trabalho árduo, este jovem de 70 anos mostrou a fibra de um garoto, aventurando-se mesmo à noite em condições duras e muitas vezes varrido pelas ondas na proa do barco e também pelas inesquecíveis panquecas e bananas flambadas.
E por fim, ao Taouhiri, que mostrou ser uma fortaleza e que soube nos levar e trazer com toda a segurança, pela segunda vez, até Fernando de Noronha e que agora volta à merecida placidez das águas de Angra dos Reis.
Também aos amigos que nos incentivaram com mensagens de apoio e carinho durante nossa viagem.
Depois a todos os companheiros velejadores que por muitas vezes não passavam de pequenas luzinhas distantes e perdidas no meio do oceano, ou de vozes pelo VHF no silêncio da noite, mas que tanto de companhia representavam. Estes com quem tantas vezes vezes compartilhamos momentos agradáveis e experiências nos portos e marinas, nos churrascos e nas cervejadas,e pelos conselhos trocados em várias ocassiões. Melhor nem nominar alguém, pois certamente alguns seriam esquecidos, e que neste momento tomaram rumos diferentes, alguns devendo estar cruzando os oceanos em busca de novos conhecimentos, novos rumos e destinos.
Aos funcionários dos iates clubes (Serginho e Pancho no TENAB em Salvador - prontos a acolher e soltar as amarras dos navegantes que chegam e partem em busca de novos lugares)-, aos funcionários dedicados do Cabanga Iate Clube - Suely, Júnior e Rafaela na Secretaria e na organização da Refeno, além do grande e prestativo Marcílio, sempre presente e disposto a nos ajudar, todos nos propiciaram bons momentos em Recife. Ao comodoro Eduardo Moura do Aratu Iate Clube, juntamente com os fantásticos funcionários Rivelino e Adauto no suporte e logística aos velejadores. Em Ilhéus aos queridos Geovânio e Cacá, pela retaguarda e apoio. Agradecimento especial ao Iate Clube Vitória, pela hospitalidade e grande infraestrutura e apoio aos navegantes. Aos funcionários do Iate Clube do Rio de Janeiro, quase anônimos e que trabalham incessantemente para o bem estar de tantos, assim como ao Pierre e seu irmão em Búzios, jovens generosos e com tanto a oferecer aos que se relacionam com o mar.
Também o apoio e a organização da ABVC, sem os quais não teria sido possível chegar até Fernando de Noronha com tanta facilidade. Homens que dedicaram tanto de seu tempo e conhecimento para uma experiência única de outras pessoas.
Àqueles que deixaram seus projetos pessoais para se dedicarem aos outros, especialmente ao querido Ronaldo do veleiro Feitiço. Também aos nossos capitães de flotilha ao assumir responsabilidades que não eram poucas.
À Marinha do Brasil, pelo apoio durante a REFENO e sua enorme função de cuidar de nosso extenso litoral, com homens treinados e dispostos a salvaguardar a vida humana no mar. Pela especial paciência em Abrolhos, quando tantos visitantes invadiram as ilhas e souberam manter um clima cordial e amistoso.
Ao Teles, que com sua van da Nautos percorre o litoral brasileiro oferecendo ajuda e inestimável conhecimento aos velejadores.
Um eterno agradecimento à tripulação do Taouhiri e daqueles que compartilharam momentos bons e outros momentos duros, sem os quais nossa tarefa teria sido impossível. Ao filho Marcelo e ao amigo Rafa em especial na regata Recife/Noronha, que apesar da dureza da travessia sempre estiveram dispostos e mantiveram-se com bom astral todo o trajeto. Ao Daniel, que por razões particulares teve que sair do barco em Salvador, ainda na subida; ao Victor, em particular, pela companhia e trabalho árduo, este jovem de 70 anos mostrou a fibra de um garoto, aventurando-se mesmo à noite em condições duras e muitas vezes varrido pelas ondas na proa do barco e também pelas inesquecíveis panquecas e bananas flambadas.
E por fim, ao Taouhiri, que mostrou ser uma fortaleza e que soube nos levar e trazer com toda a segurança, pela segunda vez, até Fernando de Noronha e que agora volta à merecida placidez das águas de Angra dos Reis.
Rumo ao sul
Nossa descida em direção ao sul está sendo bastante rápida. Normalmente esta época do ano (primavera) é bastante propícia para quem desce a costa brasileira . Seria assim. Ou deveria ser. Mas a verdade é que temos sido forçados a ir driblando várias frentes vindas do sul e agora fomos obrigados a buscar abrigo durante vários dias em Caravelas, no sul da Bahia.
Caravelas é outra daquelas simpaticíssimas e originais cidades baianas que situam-se adentro de rios. Apesar de ficar próxima da costa, ela esconde-se no interior do rio Caravelas, protegida dos ventos e influenciada pelo sistema das marés enchentes e vazantes. Com acesso bem fácil para quem vem de barco, através de um canal dragado e balizado pela Aracruz Celulose, que tem mais no início do rio sua base de extração e transporte de madeiras, Caravelas conseguiu manter-se afastada daquele turismo de massa predatório. Me faz lembrar um pouco de Parati e Olinda sem o cuidado e o prestígio delas.
Esta pequena e antiga cidade, fundada em 3 de novembro de 1503, mantém suas características de casario centenário e ao mesmo tempo de paisagens bucólicas tanto nas pequenas ruas como no píer onde várias embarcações estão atracadas, seja para passar a noite ou para reabastecimento de água e diesel. Observa-se uma grande quantidade de bicicletas pelas ruas, já que a cidade é quase toda plana. Ainda há mais adiante um porto pesqueiro com uma atividade bastante interessante das dezenas de pequenos barcos que saem todos os dias em busca do pescado. A população é simples e acolhedora, com um ritmo de vida muito tranquilo, típico destes lugares onde o tempo não pede passagem.
Aqui temos várias operadoras de mergulho que partem para o arquipélago de Abrolhos e uma base do Projeto Baleia Jubarte, entidade governamental gerida pelo ICMBio (a outra encontra-se mais ao norte, na Praia do Forte).
O Banco dos Abrolhos está situado numa parte da costa onde a plataforma continental estende-se por mais de 200 quilômetros, o que permite a formação deste ecossistema sem igual. O arquipélago é resultado de atividade vulcânica ocorrida há mais de 40 milhões de anos, quando houve o afloramento das rochas vulcânicas. Com o passar do tempo este solo marinho erodiu e as cinco ilhas foram esculpidas pelo mar e pelo vento. Corais, algas calcáreas e muitos outros organismos foram construindo a estrutura rochosa que hoje ocupa grande parte do Banco dos Abrolhos.
Aproveitamos nossa espera também para realizar algumas incursões pelo interior dos rios, um deles que liga Caravelas a Nova Viçosa, 20 milhas mais ao sul, onde é possível sair novamente ao mar. Fomos junto com o veleiro Mistralis, dos queridos Felipe e Karen. Devido a pouca profundidade em alguns trechos do rio acabamos não conseguindo chegar, pois encalhamos diversas vezes e no final tivemos que desistir de Nova Viçosa. Mas valeu pelo passeio!
Caravelas é outra daquelas simpaticíssimas e originais cidades baianas que situam-se adentro de rios. Apesar de ficar próxima da costa, ela esconde-se no interior do rio Caravelas, protegida dos ventos e influenciada pelo sistema das marés enchentes e vazantes. Com acesso bem fácil para quem vem de barco, através de um canal dragado e balizado pela Aracruz Celulose, que tem mais no início do rio sua base de extração e transporte de madeiras, Caravelas conseguiu manter-se afastada daquele turismo de massa predatório. Me faz lembrar um pouco de Parati e Olinda sem o cuidado e o prestígio delas.
Esta pequena e antiga cidade, fundada em 3 de novembro de 1503, mantém suas características de casario centenário e ao mesmo tempo de paisagens bucólicas tanto nas pequenas ruas como no píer onde várias embarcações estão atracadas, seja para passar a noite ou para reabastecimento de água e diesel. Observa-se uma grande quantidade de bicicletas pelas ruas, já que a cidade é quase toda plana. Ainda há mais adiante um porto pesqueiro com uma atividade bastante interessante das dezenas de pequenos barcos que saem todos os dias em busca do pescado. A população é simples e acolhedora, com um ritmo de vida muito tranquilo, típico destes lugares onde o tempo não pede passagem.
Aqui temos várias operadoras de mergulho que partem para o arquipélago de Abrolhos e uma base do Projeto Baleia Jubarte, entidade governamental gerida pelo ICMBio (a outra encontra-se mais ao norte, na Praia do Forte).
O Banco dos Abrolhos está situado numa parte da costa onde a plataforma continental estende-se por mais de 200 quilômetros, o que permite a formação deste ecossistema sem igual. O arquipélago é resultado de atividade vulcânica ocorrida há mais de 40 milhões de anos, quando houve o afloramento das rochas vulcânicas. Com o passar do tempo este solo marinho erodiu e as cinco ilhas foram esculpidas pelo mar e pelo vento. Corais, algas calcáreas e muitos outros organismos foram construindo a estrutura rochosa que hoje ocupa grande parte do Banco dos Abrolhos.
Aproveitamos nossa espera também para realizar algumas incursões pelo interior dos rios, um deles que liga Caravelas a Nova Viçosa, 20 milhas mais ao sul, onde é possível sair novamente ao mar. Fomos junto com o veleiro Mistralis, dos queridos Felipe e Karen. Devido a pouca profundidade em alguns trechos do rio acabamos não conseguindo chegar, pois encalhamos diversas vezes e no final tivemos que desistir de Nova Viçosa. Mas valeu pelo passeio!
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Ainda em Recife
Enquanto abastecemos o barco e fazemos alguns reparos de peças, ainda consequências da regata Recife/Noronha, damos algumas caminhadas por alguns bairros de Recife. Em alguns momentos do dia estas prosaicas atividades chegam a ser penosas devido ao forte calor quase equatorial.
A previsão é de sairmos em dois dias em direção a Maceió (120 milhas), fazendo um breve pit-stop e logo uma perna maior (280 milhas) até Salvador.
Ainda revejo algumas fotos da vinda de Noronha e coloco no blog para uma idéia de como foi nossa vinda, uma tranquila viagem acompanhado por golfinhos e com nossa tripulação formada por meu filho Marcelo, nosso amigo Rafa e o querido Victor.
A previsão é de sairmos em dois dias em direção a Maceió (120 milhas), fazendo um breve pit-stop e logo uma perna maior (280 milhas) até Salvador.
Ainda revejo algumas fotos da vinda de Noronha e coloco no blog para uma idéia de como foi nossa vinda, uma tranquila viagem acompanhado por golfinhos e com nossa tripulação formada por meu filho Marcelo, nosso amigo Rafa e o querido Victor.
Regata Recife / Fernando de Noronha
Eram três da tarde de segunda-feira e acordei com fortes dores nas pernas. Câimbras espalhavam-se por diversos músculos ao mesmo tempo. Eram o reflexo de uma viagem duríssima e cansativa de 300 milhas náuticas. Havíamos chegado às 09:30hs da manhã em Noronha, apenas algumas horas atrás, e 41 horas após termos largado de Recife. O mar esteve descomunalmente alto e com ventos entre 20 e 35 nós, o que nos obrigava a constantes mudanças de velas e um interminável banho de água salgada. O barco esteve um caos boa parte do percurso, todo molhado e com roupas misturadas com frutas e legumes. Íamos dormir (como se isto fosse possível) todos encharcados e assim molhávamos os colchões e tudo mais.
Pelo rádio escutávamos os diversos pedidos de ajuda à Marinha, barcos com leme quebrado, desmatreados, alguns voltando ao continente para reparos como o Delirante e o Guga Buy com seus cabos de aço que ligam o leme ao timão estourados. Ouvimos também um barco solicitar auxílio médico à Marinha, pois seu tripulante estava inconsciente (mais tarde soubemos que ele havia sofrido um AVC) e tinha que ser internado no hospital em Natal. Outros barcos retornaram pois seus tripulantes não aguentaram o tranco. Outro rasgou a vela mestra, outro perdeu nada menos que uma catraca pela força do vento. Outro a âncora, e assim por diante. Íamos escutando pelo VHF e pensando em como estava mesmo duro o mar. Na chegada em terra soubemos que quase todo mundo havia enfrentado pelo menos algum inconveniente.
Em algum comentário anterior ainda elogiei o Taouhiri por quase nunca nos dar trabalho. Justamente nesta perna tivemos dois problemas. O primeiro nem tão grande, mas que custou-nos quase doze horas com a genoa recolhida ( o que no final resultou cinco horas a menos no tempo de chegada). Isto quando estávamos a apenas 100 milhas de Noronha, faltando apenas um terço da viagem.
E o mais grave, na linha de chegada, com o barco completamente adernado pois tentávamos alcançar um grupo de barcos à nossa frente. Já havíamos alcançado uns dois e ainda faltava outro quando, a apenas 200 metros da linha de chegada, nossa corrente que liga o leme ao timão estourou. Esta corrente é uma peça reforçada em aço inox que mesmo assim não aguentou o esforço. Naqueles poucos instantes e até nos darmos conta do que havia acontecido ficamos um pouco desconcertados. A primeira reação foi baixar a vela grande imediatamente, já que estávamos perigosamente perto da costa e à deriva. Só então nos demos conta do que estava acontecendo e rapidamente pusemos um leme de fortuna e, com alguma dificuldade ainda conseguimos cruzar a linha de chegada, tendo perdido mais algumas posições.
No final um desapontador oitavo lugar em nossa categoria entre os 30 inscritos.
E era particularmente frustante porque soubemos que teríamos chegado em segundo se nenhum destes problemas bestas tivessem ocorrido. Mas regata é assim mesmo, força-se muito todo o equipamento, ao máximo, e as fadigas de material justamente aparecem nestas ocasiões. O pior é saber que para mim havia três barcos imbatíveis, dos quais somente o veleiro Vento confirmou o primeiro lugar e que haveríamos chegado na frente dos outros dois (um Bavária 49 pés e o WaWaToo, um outro barco de 18m de comprimento, quando ambos chegaram após nosso tempo estimado de chegada).
Ao fim sobrou uma certa decepção e muito cansaço. Nas primeiras duzentas milhas tínhamos feito uma média excelente entre 8 e 9 nós. Despois do problema com o cabo da genoa passamos a andar a cerca de 6 nós, o que fez toda a diferença e nos mandou para trás na classificação, mesmo tendo naquela manhã trocado o cabo e retomado nossa velocidade anterior. Mas aí já era tarde demais.
Depois daquelas primeiras horas de descanso, e pouco a pouco, nosso ânimo renovou-se com o ar e o sol de Noronha, pelos muitos banhos de mar, mergulhos em águas paradisíacas e passeios por trilhas de onde se tinha um visual impressionante de algumas das mais belas praias do planeta, sem falar dos coquetéis do Cruzeiro Costa Leste e das festas de premiação da Refeno. Algumas praias, como a Baía do Sancho e a Praia dos Porcos estão entre os mais espetaculares lugares que já visitei. São pequenas baías com uma coloração de água extraordinária.
Fernando de Noronha é daqueles lugares imperdíveis, uma formação vulcânica que surge do fundo do oceano, a 4 ou 5 mil metros de profundidade para surgir em meio ao oceano com poucas centenas de metros acima do nível do mar, com uma fauna e flora impressionantes. Hoje pela manhã (sexta-feira e véspera da partida para Recife) apareceu na baía onde estamos ancorados centenas ou milhares (difícil precisar) de golfinhos. Foi a primeira vez que vi tantos juntos e ficaram um bom tempo perto da gente. Na saída de Noronha, no outro dia, a mesma coisa, vários grupos de golfinhos nadando junto aos barcos.
Saímos do arquipélago no sábado (2 de outubro) e a volta foi muito tranquila, com um mar bastante baixo e vento fracos, o que proporcionou-nos uma velejada muito agradável. Desta vez levamos 48 horas até chegar em Recife.
Pelo rádio escutávamos os diversos pedidos de ajuda à Marinha, barcos com leme quebrado, desmatreados, alguns voltando ao continente para reparos como o Delirante e o Guga Buy com seus cabos de aço que ligam o leme ao timão estourados. Ouvimos também um barco solicitar auxílio médico à Marinha, pois seu tripulante estava inconsciente (mais tarde soubemos que ele havia sofrido um AVC) e tinha que ser internado no hospital em Natal. Outros barcos retornaram pois seus tripulantes não aguentaram o tranco. Outro rasgou a vela mestra, outro perdeu nada menos que uma catraca pela força do vento. Outro a âncora, e assim por diante. Íamos escutando pelo VHF e pensando em como estava mesmo duro o mar. Na chegada em terra soubemos que quase todo mundo havia enfrentado pelo menos algum inconveniente.
Em algum comentário anterior ainda elogiei o Taouhiri por quase nunca nos dar trabalho. Justamente nesta perna tivemos dois problemas. O primeiro nem tão grande, mas que custou-nos quase doze horas com a genoa recolhida ( o que no final resultou cinco horas a menos no tempo de chegada). Isto quando estávamos a apenas 100 milhas de Noronha, faltando apenas um terço da viagem.
E o mais grave, na linha de chegada, com o barco completamente adernado pois tentávamos alcançar um grupo de barcos à nossa frente. Já havíamos alcançado uns dois e ainda faltava outro quando, a apenas 200 metros da linha de chegada, nossa corrente que liga o leme ao timão estourou. Esta corrente é uma peça reforçada em aço inox que mesmo assim não aguentou o esforço. Naqueles poucos instantes e até nos darmos conta do que havia acontecido ficamos um pouco desconcertados. A primeira reação foi baixar a vela grande imediatamente, já que estávamos perigosamente perto da costa e à deriva. Só então nos demos conta do que estava acontecendo e rapidamente pusemos um leme de fortuna e, com alguma dificuldade ainda conseguimos cruzar a linha de chegada, tendo perdido mais algumas posições.
No final um desapontador oitavo lugar em nossa categoria entre os 30 inscritos.
E era particularmente frustante porque soubemos que teríamos chegado em segundo se nenhum destes problemas bestas tivessem ocorrido. Mas regata é assim mesmo, força-se muito todo o equipamento, ao máximo, e as fadigas de material justamente aparecem nestas ocasiões. O pior é saber que para mim havia três barcos imbatíveis, dos quais somente o veleiro Vento confirmou o primeiro lugar e que haveríamos chegado na frente dos outros dois (um Bavária 49 pés e o WaWaToo, um outro barco de 18m de comprimento, quando ambos chegaram após nosso tempo estimado de chegada).
Ao fim sobrou uma certa decepção e muito cansaço. Nas primeiras duzentas milhas tínhamos feito uma média excelente entre 8 e 9 nós. Despois do problema com o cabo da genoa passamos a andar a cerca de 6 nós, o que fez toda a diferença e nos mandou para trás na classificação, mesmo tendo naquela manhã trocado o cabo e retomado nossa velocidade anterior. Mas aí já era tarde demais.
Depois daquelas primeiras horas de descanso, e pouco a pouco, nosso ânimo renovou-se com o ar e o sol de Noronha, pelos muitos banhos de mar, mergulhos em águas paradisíacas e passeios por trilhas de onde se tinha um visual impressionante de algumas das mais belas praias do planeta, sem falar dos coquetéis do Cruzeiro Costa Leste e das festas de premiação da Refeno. Algumas praias, como a Baía do Sancho e a Praia dos Porcos estão entre os mais espetaculares lugares que já visitei. São pequenas baías com uma coloração de água extraordinária.
Fernando de Noronha é daqueles lugares imperdíveis, uma formação vulcânica que surge do fundo do oceano, a 4 ou 5 mil metros de profundidade para surgir em meio ao oceano com poucas centenas de metros acima do nível do mar, com uma fauna e flora impressionantes. Hoje pela manhã (sexta-feira e véspera da partida para Recife) apareceu na baía onde estamos ancorados centenas ou milhares (difícil precisar) de golfinhos. Foi a primeira vez que vi tantos juntos e ficaram um bom tempo perto da gente. Na saída de Noronha, no outro dia, a mesma coisa, vários grupos de golfinhos nadando junto aos barcos.
Saímos do arquipélago no sábado (2 de outubro) e a volta foi muito tranquila, com um mar bastante baixo e vento fracos, o que proporcionou-nos uma velejada muito agradável. Desta vez levamos 48 horas até chegar em Recife.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Reflexões de alguns dias calmos no Cabanga
Como temos regularmente feito toda a inspeção do barco, e nos dedicado sempre a cuidar bem do Taouhiri, ele não tem apresentado grandes problemas além daquelas manutenções necessárias e periódicas. Alguma vez ou outra reparamos algum cabo mais desgastado, um moitão mais sofrido ou alguma coisinha para consertar. Felizmente não temos tido nenhum problema mais sério. Apesar que tenho ouvido muitos velejadores afirmarem que "barco é uma forma segura para alguém nunca mais ficar sem nada para fazer na vida", a verdade é que não podemos reclamar nada do Taouhiri e são poucas as preocupações que temos além daquelas normais.
Alternamos momentos de (pouco) trabalho no barco com (muitos) momentos de lazer no Cabanga Iate Clube, nestes dias de espera para a largada da regata para Fernando de Noronha no próximo dia 25. Entre revisões de motor e do sistema de leme, limpeza e lubrificação de catracas,verificação das bombas de água, abastecimento de diesel, gasolina e mantimentos para os próximos 10 dias no mar, revisão das âncoras e seus cabos, temos encontrados muitos amigos nas diversas ocasiões festivas que costumam acontecer nestas épocas que antecedem a regata. Anteontem tivemos uma grande feijoada, ontem foi um churrasco patrocinado pelo pessoal gaúcho em comemoração à data farroupilha lá no Rio Grande do Sul. Hoje teremos outro churasco, desta vez patrocinado pelo pessoal do Costa Leste e nos próximos dias as festas comemorativas do Cabanga para a Refeno.
E assim vamos fazendo e reencontrando amigos. Ontem tive a oportunidade de rever o Gigante do Veleiro Entre Polos. Conheci-o lá nos tempos em que construía o Taouhiri na beira da BR 101 quando por diversas vezes ele atuou como entregador de peças inox do querido Santo, um grande artesão do aço. Trazia peças que eu havia encomendado lá em Porto Alegre e conversávamos nestas ocasiões em que ele passava em direção à Porto Belo, onde morava e vindo de Porto Alegre onde construía seu barco. Depois daquelas conversas na beira da estrada voltamos a nos reencontrar em Fernando de Noronha em 2008, quando ele acabava de chegar de uma viagem em solitário desde a Europa. Hoje falamos sobre as viagens dele no Caribe, o tempo na Europa com a família, a volta para o Brasil em solitário, os planos dele para o Pacífico dentro de mais alguns anos e outros projetos. Desta vez eu vou para a 2a Refeno e ele já deve estar lá pela terceira ou quarta regata até Noronha. Caminhos que se entrecruzam de pessoas que admiram e gostam de viver no mar.
Outra figura querida que encontrei aqui é do Jan, um simpático senhor de barbas e cabelos brancos que viaja em solitário com sua cachorrinha poodle de companhia. Ele é meio holandês e meio gaúcho e vive no mar há muitos anos. Pelos cálculos que fazia outro dia, computando sua vida de capitão de navios entre o Brasil e a Holanda durante sua vida profissional, ele tem mais de um milhão de milhas navegadas, uma marca impressionante para qualquer um. Hoje ele está aposentado e navega no Jamaluce, um barco de aço que mais parece uma fortaleza.
Bem, velejar em alto mar não tem nada daquela imagem estereotipada de pessoas elegantes, invariavelmente com os cabelos bem-penteados, roupas limpas e alinhadas, barba recém feita e Rolex nos pulsos. A realidade, no entanto... é bem diferente. Travessias são, em geral, bastante incômodas. O que se vê na chegada dos barcos após longas temporadas no mar é em geral de arrepiar: zumbis cambaleando com os cabelos desgrenhados numa mistura de suor, sal, sol e vento. As mãos e corpos sujos de óleo e graxa, barba por fazer e as roupas em estado de miséria formam um quadro um pouco aterrador.
Já havíamos feito a costa brasileira em 2008, partindo de Florianópolis. Navegamos até Natal, depois de passar por Fernando de Noronha e outros maravilhosos pontos de nosso imenso litoral (Ilhabela, Paraty, Angra. Rio de Janeiro, Búzios, Vitória, Abrolhos, a enorme extensão do litoral baiano com suas inúmeras paradisíacas praias e pequenos vilarejos perdidos no tempo - Caravelas, Santo André, Baía de Camamu, Ilhéus, Morro de São Paulo. Depois Salvador/Itaparica, onde ficamos quase um mês. Uma velejada fantástica para Maceió, uma escala curta em Suape (que de lugar pitoresco estava em transformação para ser um importante polo petrolífero e uma grande refinaria do Nordeste) e finalmente Recife, de onde partiria a regata Recife/Fernando de Noronha.
Naquele ano foram 4 meses duros, lindos, e que estamparam, tenho certeza, uma imagem inesquecível em toda a tripulação com que tive o privilégio de compartilhar aqueles momentos.
Alternamos momentos de (pouco) trabalho no barco com (muitos) momentos de lazer no Cabanga Iate Clube, nestes dias de espera para a largada da regata para Fernando de Noronha no próximo dia 25. Entre revisões de motor e do sistema de leme, limpeza e lubrificação de catracas,verificação das bombas de água, abastecimento de diesel, gasolina e mantimentos para os próximos 10 dias no mar, revisão das âncoras e seus cabos, temos encontrados muitos amigos nas diversas ocasiões festivas que costumam acontecer nestas épocas que antecedem a regata. Anteontem tivemos uma grande feijoada, ontem foi um churrasco patrocinado pelo pessoal gaúcho em comemoração à data farroupilha lá no Rio Grande do Sul. Hoje teremos outro churasco, desta vez patrocinado pelo pessoal do Costa Leste e nos próximos dias as festas comemorativas do Cabanga para a Refeno.
E assim vamos fazendo e reencontrando amigos. Ontem tive a oportunidade de rever o Gigante do Veleiro Entre Polos. Conheci-o lá nos tempos em que construía o Taouhiri na beira da BR 101 quando por diversas vezes ele atuou como entregador de peças inox do querido Santo, um grande artesão do aço. Trazia peças que eu havia encomendado lá em Porto Alegre e conversávamos nestas ocasiões em que ele passava em direção à Porto Belo, onde morava e vindo de Porto Alegre onde construía seu barco. Depois daquelas conversas na beira da estrada voltamos a nos reencontrar em Fernando de Noronha em 2008, quando ele acabava de chegar de uma viagem em solitário desde a Europa. Hoje falamos sobre as viagens dele no Caribe, o tempo na Europa com a família, a volta para o Brasil em solitário, os planos dele para o Pacífico dentro de mais alguns anos e outros projetos. Desta vez eu vou para a 2a Refeno e ele já deve estar lá pela terceira ou quarta regata até Noronha. Caminhos que se entrecruzam de pessoas que admiram e gostam de viver no mar.
Outra figura querida que encontrei aqui é do Jan, um simpático senhor de barbas e cabelos brancos que viaja em solitário com sua cachorrinha poodle de companhia. Ele é meio holandês e meio gaúcho e vive no mar há muitos anos. Pelos cálculos que fazia outro dia, computando sua vida de capitão de navios entre o Brasil e a Holanda durante sua vida profissional, ele tem mais de um milhão de milhas navegadas, uma marca impressionante para qualquer um. Hoje ele está aposentado e navega no Jamaluce, um barco de aço que mais parece uma fortaleza.
Bem, velejar em alto mar não tem nada daquela imagem estereotipada de pessoas elegantes, invariavelmente com os cabelos bem-penteados, roupas limpas e alinhadas, barba recém feita e Rolex nos pulsos. A realidade, no entanto... é bem diferente. Travessias são, em geral, bastante incômodas. O que se vê na chegada dos barcos após longas temporadas no mar é em geral de arrepiar: zumbis cambaleando com os cabelos desgrenhados numa mistura de suor, sal, sol e vento. As mãos e corpos sujos de óleo e graxa, barba por fazer e as roupas em estado de miséria formam um quadro um pouco aterrador.
Já havíamos feito a costa brasileira em 2008, partindo de Florianópolis. Navegamos até Natal, depois de passar por Fernando de Noronha e outros maravilhosos pontos de nosso imenso litoral (Ilhabela, Paraty, Angra. Rio de Janeiro, Búzios, Vitória, Abrolhos, a enorme extensão do litoral baiano com suas inúmeras paradisíacas praias e pequenos vilarejos perdidos no tempo - Caravelas, Santo André, Baía de Camamu, Ilhéus, Morro de São Paulo. Depois Salvador/Itaparica, onde ficamos quase um mês. Uma velejada fantástica para Maceió, uma escala curta em Suape (que de lugar pitoresco estava em transformação para ser um importante polo petrolífero e uma grande refinaria do Nordeste) e finalmente Recife, de onde partiria a regata Recife/Fernando de Noronha.
Naquele ano foram 4 meses duros, lindos, e que estamparam, tenho certeza, uma imagem inesquecível em toda a tripulação com que tive o privilégio de compartilhar aqueles momentos.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Praia de Carneiros / Recife
De Maceió até a Praia de Carneiros são apenas 80 milhas e aproveitando um vento bom e favorável acamos fazendo este trecho em 10 horas, uma média de 8 nós. Foi um trajeto muito tranquilo, com vento e mar a favor. Não entrou uma gota de água no barco, que vinha bem estável e rápido.
O mais difícil foi a entrada na Praia de Carneiros, onde tivemos que aguardar até a maré alta e a chegada de um prático para orientar-nos na entrada, já que seria quase impossível entrar naquele lugar sem a ajuda de pessoas do local. Éramos quatro veleiros que seguiam em fila indiana por entre recifes e bancos de areia, com ondas rebentando na passagem, num ziguezaguear paralelo à praia e às vezes com uma profundidade que mal dava para entrar; depois de uma hora e meia e bem no finalzinho da tarde acabamos chegando num luar paradisíaco como poucas vezes conheci, na entrada de um rio com coqueiros dos dois lados e poucas casas de pescadores. No outro dia fizemos uma caminhada de uns 10 km até o povoado mais próximo, Tamandaré. É uma cidadezinha que vive basicamente do turismo e tem alguns prédios remanescentes de outros tempos, como igrejas e um forte de 1690. Voltamos de táxi para o barco e no final da tarde ainda fizemos uma incursão de botinho pelo interior do rio Ariquindá, um extenso rio rodeado por manguezais e alguns raros pescadores nas margens de vez em quando.
Saímos de Carneiros dois dias depois no mesmo ritual de travessia, agora sem o prático. O Tuareg com o calado menor foi na frente fazendo a medição de profundidade e ajudados pelo GPS acabamos alcançando o mar e 40 milhas e poucas horas depois de uma bela velejada entramos no Cabanga Iate Clube. É deste clube que sai no próximo dia 25 a regata Recife/Fernando de Noronha. Enquanto isso vamos preparar o barco para a Refeno (www.refeno.com.br) pois ainda temos inúmeras tarefas para deixar tudo pronto para a largada.
O mais difícil foi a entrada na Praia de Carneiros, onde tivemos que aguardar até a maré alta e a chegada de um prático para orientar-nos na entrada, já que seria quase impossível entrar naquele lugar sem a ajuda de pessoas do local. Éramos quatro veleiros que seguiam em fila indiana por entre recifes e bancos de areia, com ondas rebentando na passagem, num ziguezaguear paralelo à praia e às vezes com uma profundidade que mal dava para entrar; depois de uma hora e meia e bem no finalzinho da tarde acabamos chegando num luar paradisíaco como poucas vezes conheci, na entrada de um rio com coqueiros dos dois lados e poucas casas de pescadores. No outro dia fizemos uma caminhada de uns 10 km até o povoado mais próximo, Tamandaré. É uma cidadezinha que vive basicamente do turismo e tem alguns prédios remanescentes de outros tempos, como igrejas e um forte de 1690. Voltamos de táxi para o barco e no final da tarde ainda fizemos uma incursão de botinho pelo interior do rio Ariquindá, um extenso rio rodeado por manguezais e alguns raros pescadores nas margens de vez em quando.
Saímos de Carneiros dois dias depois no mesmo ritual de travessia, agora sem o prático. O Tuareg com o calado menor foi na frente fazendo a medição de profundidade e ajudados pelo GPS acabamos alcançando o mar e 40 milhas e poucas horas depois de uma bela velejada entramos no Cabanga Iate Clube. É deste clube que sai no próximo dia 25 a regata Recife/Fernando de Noronha. Enquanto isso vamos preparar o barco para a Refeno (www.refeno.com.br) pois ainda temos inúmeras tarefas para deixar tudo pronto para a largada.
Contrastes em Maceió
Maceió é uma agradável cidade do Nordeste, pequena e com uma das mais lindas praias que é Pajuçara. Amplaa avenidas super arborizadas costeando a orla, caminhos para pedestres e para bicicletas, as famosas piscinas naturais onde os jangadeiros fazem passeios turísticos com um mar verde turquesa ao fundo, protegido por barreiras de recifes,fazem esta parte da capital de Alagoas um bonito cartão postal.
O grande problema de Maceió é na frente da Federação Alagoana de Vela e Motor,na praia de Jaraguá, onde todo o lixo que sai dos rios próximos à capital acaba depositando-se ali formando uma das coisas mais horrorosas que eu já tinha visto em algum lugar. Montanhas de lixo espalhadas pela praia que fica em frente de onde temos que descer. É repugnante pisar naquela massa disforme que antes era mar. Ao lado da Federação ainda existem duas favelas que não ajudam muito a melhorar as coisas, que ainda sofrem com todo tipo de doenças infecciosas e falta de saneamento. Os esgotos correm a céu aberto e muitas crianças brincam no meio de todo aquele lixão. O fedor é insuportável e todos que lá desembarcam ficam completamente estupefatos com aquela situação. Dizem que já há muitos anos os prefeitos prometem resolver aquela vergonha, mas entra ano e sai ano e continua tudo na mesma.
O grande problema de Maceió é na frente da Federação Alagoana de Vela e Motor,na praia de Jaraguá, onde todo o lixo que sai dos rios próximos à capital acaba depositando-se ali formando uma das coisas mais horrorosas que eu já tinha visto em algum lugar. Montanhas de lixo espalhadas pela praia que fica em frente de onde temos que descer. É repugnante pisar naquela massa disforme que antes era mar. Ao lado da Federação ainda existem duas favelas que não ajudam muito a melhorar as coisas, que ainda sofrem com todo tipo de doenças infecciosas e falta de saneamento. Os esgotos correm a céu aberto e muitas crianças brincam no meio de todo aquele lixão. O fedor é insuportável e todos que lá desembarcam ficam completamente estupefatos com aquela situação. Dizem que já há muitos anos os prefeitos prometem resolver aquela vergonha, mas entra ano e sai ano e continua tudo na mesma.
Uma velejada com começo complicado
Partimos de Salvador por volta das 3 da tarde, um dia cinzento e chuvoso. Logo na saída da Baía de Todos os Santos encontramos uma situação bastante caótica. Naquele trecho onde o Oceano Atlântico se afunila para entrar na baía o mar parecia em ebulição. Uma ondulação alta e curta, correntezas, um vento forte e muita chuva tornaram nossa saída uma confusão. Como tínhamos posto todas as velas para cima dentro da baía, tivemos que rapidamente reduzir panos para lograr um certo conforto. O barco estando completamente adernado, demos uma mão de rizo mas não adiantou nada, logo outra mão de rizo e recolhemos a genoa e só então o barco começou a navegar com um certo controle. As primeiras 15 horas foram bastante desconfortáveis, com os famosos pirajás caindo sobre nossas cabeças, além de um mar que balançava demais. As ondas estouravam no casco e com o vento varriam o convés e a tripulação.
O segundo dia de viagem trouxe um céu mais alentador e o mar muito mais calmo, e pudemos então abrir a genoa e retirar uma forra de rizo da vela maior. Levamos 45 horas para cobrir as 280 milhas, uma média razoável no final das contas.
O segundo dia de viagem trouxe um céu mais alentador e o mar muito mais calmo, e pudemos então abrir a genoa e retirar uma forra de rizo da vela maior. Levamos 45 horas para cobrir as 280 milhas, uma média razoável no final das contas.
domingo, 5 de setembro de 2010
Saída para Maceió
A próxima perna é a mais longa até agora. Deveremos partir segunda-feira (06/09) para Maceió. Serão 270 milhas e a previsão do tempo indica ventos do quadrante sudeste/leste entre 10 e 18 nós, o que nos é bastante favorável. Temos muita coisa para preparar amanhã, então temos que correr e deixar tudo pronto para zarpar até o final do dia. Temos que aprovisionar o barco, comprar mantimentos, óleo diesel, óleo para o motor, providenciar cartas náuticas, enfim, uma correria. Mais para o meio da semana o vento diminui, então temos que sair logo e aproveitar este período para velejar com ventos a favor. Alguns veleiros também sairão amanhã, como o Guga Buy, Tuareg e Mony.
O Pelourinho é na verdade um grande museu artístico/cultural/arquitetônico a céu aberto. Cada ida para lá nos rende grandes surpresas e sempre tem novidades, mesmo quando achamos que já vimos tudo. Há sempre vários grupos de música ou shows em bares com música ao vivo, e além de todo aquele cenário que são os prédios e as casas, há muitos personagens originais que fazem parte do cotidiano baiano.
Também a parte religiosa é muito forte e assistir algumas missas é sempre um gratificante passeio. Algumas são bastante peculiares, como na missa da Igreja de Santo Antônio, que é um culto todo cantado e batucado, com os fiéis cantando e dançando. Podemos passar agradáveis momentos vendo e ouvindo estes cultos, e mesmo os mais ateus não ficam indiferentes a estes instantes de genuína espitirualidade.
Também a parte religiosa é muito forte e assistir algumas missas é sempre um gratificante passeio. Algumas são bastante peculiares, como na missa da Igreja de Santo Antônio, que é um culto todo cantado e batucado, com os fiéis cantando e dançando. Podemos passar agradáveis momentos vendo e ouvindo estes cultos, e mesmo os mais ateus não ficam indiferentes a estes instantes de genuína espitirualidade.
Uma semana em Salvador
Faz uma semana que estamos no TENAB (Centro Náutico da Bahia) e, ao contrário do Aratu Iate Clube, não temos um lugar muito tranquilo no que se refere ao fundeio. Os barcos ficam presos pela popa e pela proa e o mar balança muito. Resultado: até hoje já tivemos três cabos de popa partidos e uma mola estraçalhada. A força que o movimento do mar faz é enorme, e às vezes, conforme o movimento da maré, os barcos sofrem bastante jogando de um lado para o outro. De outra parte estamos muito bem situados no que diz respeito à localização. Como estamos aos pés do elevador Lacerda, em 5 minutos vamos ao Pelourinho.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Maragogipe - Salvador
Maragogipe é outra daquelas cidades do interior da Bahia onde é possível perceber que já tiveram seus momentos de prosperidade pelas belas construções e rebuscados prédios de outros tempos. Há muitos anos ela foi uma das maiores produtores de café do país, antes que a produção fosse deslocada para o sudeste do país pelos imigrantes que então chegavam àquela região no início do século passado. A tradição católica manteve-se forte e ainda hoje a população é fortemente influenciada pela Igreja. A Igreja Matriz foi construída no século XVIII pelos escravos e conta a história que logo na inauguração eles não puderam participar da missa, passando então a lavar as escadarias da igreja cantando em seu idioma natal uma série de protestos contra aqueles seus senhores. A tradição manteve-se até hoje e todos os anos repetem aqueles gestos de seus antepassados. Assim como na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador.
Saímos de Maragogipe apenas com a força da correnteza do rio Paraguassu. Durante as primeiras três horas andávamos a cerca de um nó, que era a velocidade da vazante do rio . Não havia um único sinal de vento e nenhuma pressa de nossa parte. Lentamente fomos descendo juntamente com alguns saveiros ao nosso lado, que também retornavam a Salvador. Pouco a pouco o vento foi aumentando até conseguirmos fazer o barco deslizar velozmente em direção a capital baiana, quando chegamos no final da tarde com o sol iluminando as belas e históricas casas da parte alta da cidade.
Saímos de Maragogipe apenas com a força da correnteza do rio Paraguassu. Durante as primeiras três horas andávamos a cerca de um nó, que era a velocidade da vazante do rio . Não havia um único sinal de vento e nenhuma pressa de nossa parte. Lentamente fomos descendo juntamente com alguns saveiros ao nosso lado, que também retornavam a Salvador. Pouco a pouco o vento foi aumentando até conseguirmos fazer o barco deslizar velozmente em direção a capital baiana, quando chegamos no final da tarde com o sol iluminando as belas e históricas casas da parte alta da cidade.
Regata Aratu - Maragogipe
Esta é uma das mais tradicionais festas religiosas do Brasil. São vários dias em que se comemora esta data em Maragogipe, em homenagem a São Bartolomeu, padroeiro da cidade e que inclui uma já célebre regata em um sábado no final de agosto. Qualquer coisa que flutue e que tenha um pano como vela pode participar. Este ano são esperadas cerca de 400 embarcações e a regata sai sai de Aratu, que está ao fundo da Baía de Todos os Santos, sobe o rio Paraguaçu e termina em Maragogipe, cidadezinha a cerca de 50 km de Salvador.
O início da regata foi impressionante, com um monte de barcos na linha de partida espremidos e dando voltas esperando o tiro de largada. O vento aos poucos foi aumentando e pudemos concluir o percurso em cerca de 5 horas com uma boa participação. Lindo passeio e uma festa de veleiros com seus balões coloridos. Os tradicionais saveiros baianos são um capítulo à parte. Embarcações antigas que faziam todo o transporte de mercadorias e pessoas da antiga Bahia, hoje já estão em desuso e apenas algumas ainda sobrevivem aos novos tempos. Construídas com um projeto todo particular por verdadeiros artesões, são feitas com grossas madeiras seguindo cálculos e proporções que apenas alguns tinham conhecimento. O resultado é de uma beleza única neste tipo de embarcação. Hoje já não são mais construídas, trocadas que foram por barcos mais ágeis e econômicos. Uma pena que que estes elegantes saveiros hoje limitam-se a poucas unidades e que lutam de maneira heróica para sobreviver. A ONG Viva Saveiro, através de empresários e apaixonados por estas embarcações, dedica-se a preservar este patrimônio cultural da Bahia. Em seus tempos áureos, quando quase todo o comércio era feito por eles, o número de saveiros chegava a quase duas mil unidades em Salvador. Hoje não devem chegar a vinte, apesar do esforço para que estes barcos permaneçam navegando. E a participação deles é sempre uma festa e uma alegria para quem observa toda a elegância de suas linhas e de suas velas retangulares.
A chegada foi emocionante. Nunca tinha imaginado a festa que é esta regata, centenas de barcos ancorados próximos uns dos outros e várias escunas e lanchas com um som a todo volume. A descida em terra, então, é indescritível. A população estava toda ao longo cais que avança rio adentro, dançando , bebendo e cantando, as músicas no máximo volume, o que de certa forma nos surpreendia pela bagunça daqueles momentos festivos. O pessoal bebe até não poder mais e acabamos voltando para o barco mais cedo, pois estávamos exaustos pela regata e por aquela confusão reinante. No domingo dormimos até mais tarde a depois fomos dar uma volta pela cidade.
O início da regata foi impressionante, com um monte de barcos na linha de partida espremidos e dando voltas esperando o tiro de largada. O vento aos poucos foi aumentando e pudemos concluir o percurso em cerca de 5 horas com uma boa participação. Lindo passeio e uma festa de veleiros com seus balões coloridos. Os tradicionais saveiros baianos são um capítulo à parte. Embarcações antigas que faziam todo o transporte de mercadorias e pessoas da antiga Bahia, hoje já estão em desuso e apenas algumas ainda sobrevivem aos novos tempos. Construídas com um projeto todo particular por verdadeiros artesões, são feitas com grossas madeiras seguindo cálculos e proporções que apenas alguns tinham conhecimento. O resultado é de uma beleza única neste tipo de embarcação. Hoje já não são mais construídas, trocadas que foram por barcos mais ágeis e econômicos. Uma pena que que estes elegantes saveiros hoje limitam-se a poucas unidades e que lutam de maneira heróica para sobreviver. A ONG Viva Saveiro, através de empresários e apaixonados por estas embarcações, dedica-se a preservar este patrimônio cultural da Bahia. Em seus tempos áureos, quando quase todo o comércio era feito por eles, o número de saveiros chegava a quase duas mil unidades em Salvador. Hoje não devem chegar a vinte, apesar do esforço para que estes barcos permaneçam navegando. E a participação deles é sempre uma festa e uma alegria para quem observa toda a elegância de suas linhas e de suas velas retangulares.
A chegada foi emocionante. Nunca tinha imaginado a festa que é esta regata, centenas de barcos ancorados próximos uns dos outros e várias escunas e lanchas com um som a todo volume. A descida em terra, então, é indescritível. A população estava toda ao longo cais que avança rio adentro, dançando , bebendo e cantando, as músicas no máximo volume, o que de certa forma nos surpreendia pela bagunça daqueles momentos festivos. O pessoal bebe até não poder mais e acabamos voltando para o barco mais cedo, pois estávamos exaustos pela regata e por aquela confusão reinante. No domingo dormimos até mais tarde a depois fomos dar uma volta pela cidade.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Salvador
O Taouhiri está fora d'água para pintura de fundo - tintas venenosas que protegem contra uma enorme fauna de pequenos seres e algas que teimam em colar-se ao barco e então ficam navegando junto com a gente. Dependendo do tamanho dos bichinhos (cracas, mariscos e até ostras, além de inúmeros outros) as embarcações perdem muito rendimento e sempre são uma presença incômoda na vida dos navegantes, pois normalmente são operações trabalhosas e caras.
O veleiro tem sua base em Angra dos Reis, na vila do Abraão. Qualquer pessoa que tiver interesse pode contatar o Victor (www.angrasailing.com) e fazer um charter ou mesmo um passeio de um dia pela Ilha Grande, que para mim é o melhor lugar do Brasil para se passear de barco. São muitas as baías ao redor da ilha, com muitas trilhas, águas transparentes para mergulhos em meio a muita natureza e vários passeios por pequenas e calmas enseadas.
Aqui no Aratu Iate Clube, um pitoresco clube numa baía ao fundo da Baía de Todos os Santos, e que na realidade situa-se na periferia de Salvador a cerca de 30 km do centro da cidade, os barcos ficam absolutamente quietos e quase nem se mexem, numa completa calmaria. Num dos píeres encontra-se uma relíquia: um pequeno veleiro de um alemão que foi assassinado anos atrás aqui perto de Salvador em um obscuro caso e o barco acabou meio que encalhado, já que seus documentos tem dificuldades para serem regularizados. Mas o veleiro é uma verdadeira jóia rara: todo de aço e super equipado por seu antigo dono (um engenheiro elétrico alemão) para dar a volta ao mundo em solitário. Parece um pequeno tanque de guerra preparado para os mares. Triste fim deste barquinho que saiu um dia de Berlin e encontrou este trágico destino.
Enquanto trabalhamos na pintura de fundo temos tido pouco tempo para passeios. O que deu para observar é que aqui na Bahia realmente é um território fértil para os mistérios da fé. Além de inúmeras igrejas católicas espalhadas por todo lado (qualquer cantinho de garagem pode abrigar uma religião com um nome meio esdrúxulo e meia dúzia de fiéis), Salvador foi muito influenciada pela cultura africana, mantendo até hoje tradições musicais e rituais religiosos. Então, além das derivações católicas tradicionais e das outras meio picaretas mesmo, aparece toda a força dos cultos africanos, como o candomblé, a macumba e a umbanda. Em alguns enormes mercados populares há toda uma grande parte de mercadorias e animais destinadas aos rituais e sacrifícios nestes cultos.
O Mercado de São Joaquim, próximo ao ferry-boat que leva a Itaparica é um caleidoscópio popular poucas vezes visto em outros lugares. Pode-se ver de tudo e algumas coisas que exigem um certo estômago, principalmente na área de carnes. Em cada viela uma surpresa: montanhas de pimentas coloridas e outras de camarões secos, cabritos sendo carregados em carrinhos de mão, vários tipos de animais para venda, muitas frutas e cereais naturais e secos de todos os tipos, artesanatos diversos, gente por todo o lado em estreitas passagens, odores fortes e um clima contagiante de mercado persa. Os preços são evidentemente muito baratos e o passeio vale a pena para aquelas pessoas que curtem o contato com o povo local e seu modo de vida sem a interferência do turismo.
O veleiro tem sua base em Angra dos Reis, na vila do Abraão. Qualquer pessoa que tiver interesse pode contatar o Victor (www.angrasailing.com) e fazer um charter ou mesmo um passeio de um dia pela Ilha Grande, que para mim é o melhor lugar do Brasil para se passear de barco. São muitas as baías ao redor da ilha, com muitas trilhas, águas transparentes para mergulhos em meio a muita natureza e vários passeios por pequenas e calmas enseadas.
Aqui no Aratu Iate Clube, um pitoresco clube numa baía ao fundo da Baía de Todos os Santos, e que na realidade situa-se na periferia de Salvador a cerca de 30 km do centro da cidade, os barcos ficam absolutamente quietos e quase nem se mexem, numa completa calmaria. Num dos píeres encontra-se uma relíquia: um pequeno veleiro de um alemão que foi assassinado anos atrás aqui perto de Salvador em um obscuro caso e o barco acabou meio que encalhado, já que seus documentos tem dificuldades para serem regularizados. Mas o veleiro é uma verdadeira jóia rara: todo de aço e super equipado por seu antigo dono (um engenheiro elétrico alemão) para dar a volta ao mundo em solitário. Parece um pequeno tanque de guerra preparado para os mares. Triste fim deste barquinho que saiu um dia de Berlin e encontrou este trágico destino.
Enquanto trabalhamos na pintura de fundo temos tido pouco tempo para passeios. O que deu para observar é que aqui na Bahia realmente é um território fértil para os mistérios da fé. Além de inúmeras igrejas católicas espalhadas por todo lado (qualquer cantinho de garagem pode abrigar uma religião com um nome meio esdrúxulo e meia dúzia de fiéis), Salvador foi muito influenciada pela cultura africana, mantendo até hoje tradições musicais e rituais religiosos. Então, além das derivações católicas tradicionais e das outras meio picaretas mesmo, aparece toda a força dos cultos africanos, como o candomblé, a macumba e a umbanda. Em alguns enormes mercados populares há toda uma grande parte de mercadorias e animais destinadas aos rituais e sacrifícios nestes cultos.
O Mercado de São Joaquim, próximo ao ferry-boat que leva a Itaparica é um caleidoscópio popular poucas vezes visto em outros lugares. Pode-se ver de tudo e algumas coisas que exigem um certo estômago, principalmente na área de carnes. Em cada viela uma surpresa: montanhas de pimentas coloridas e outras de camarões secos, cabritos sendo carregados em carrinhos de mão, vários tipos de animais para venda, muitas frutas e cereais naturais e secos de todos os tipos, artesanatos diversos, gente por todo o lado em estreitas passagens, odores fortes e um clima contagiante de mercado persa. Os preços são evidentemente muito baratos e o passeio vale a pena para aquelas pessoas que curtem o contato com o povo local e seu modo de vida sem a interferência do turismo.
sábado, 21 de agosto de 2010
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