terça-feira, 31 de agosto de 2010

Maragogipe - Salvador

Maragogipe é outra daquelas cidades do interior da Bahia onde é possível perceber que já tiveram seus momentos de prosperidade pelas belas construções e rebuscados prédios de outros tempos. Há muitos anos ela foi uma das maiores produtores de café do país, antes que a produção fosse deslocada para o sudeste do país pelos imigrantes que então chegavam àquela região no início do século passado. A tradição católica manteve-se forte e ainda hoje a população é fortemente influenciada pela Igreja. A Igreja Matriz foi construída no século XVIII pelos escravos e conta a história que logo na inauguração eles não puderam participar da missa, passando então a lavar as escadarias da igreja cantando em seu idioma natal uma série de protestos contra aqueles seus senhores. A tradição manteve-se até hoje e todos os anos repetem aqueles gestos de seus antepassados. Assim como na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador.
Saímos de Maragogipe apenas com a força da correnteza do rio Paraguassu. Durante as primeiras três horas andávamos a cerca de um nó, que era a velocidade da vazante do rio . Não havia um único sinal de vento e nenhuma pressa de nossa parte. Lentamente fomos descendo juntamente com alguns saveiros ao nosso lado, que também retornavam a Salvador. Pouco a pouco o vento foi aumentando até conseguirmos fazer o barco deslizar velozmente em direção a capital baiana, quando chegamos no final da tarde com o sol iluminando as belas e históricas casas da parte alta da cidade.

Regata Aratu - Maragogipe

Esta é uma das mais tradicionais festas religiosas do Brasil. São vários dias em que se comemora esta data em Maragogipe, em homenagem a São Bartolomeu, padroeiro da cidade e que inclui uma já célebre regata em um sábado no final de agosto. Qualquer coisa que flutue e que tenha um pano como vela pode participar. Este ano são esperadas cerca de 400 embarcações e a regata sai sai de Aratu, que está ao fundo da Baía de Todos os Santos, sobe o rio Paraguaçu e termina em Maragogipe, cidadezinha a cerca de 50 km de Salvador.
O início da regata foi impressionante, com um monte de barcos na linha de partida espremidos e dando voltas esperando o tiro de largada. O vento aos poucos foi aumentando e pudemos concluir o percurso em cerca de 5 horas com uma boa participação. Lindo passeio e uma festa de veleiros com seus balões coloridos. Os tradicionais saveiros baianos são um capítulo à parte. Embarcações antigas que faziam todo o transporte de mercadorias e pessoas da antiga Bahia, hoje já estão em desuso e apenas algumas ainda sobrevivem aos novos tempos. Construídas com um projeto todo particular por verdadeiros artesões, são feitas com grossas madeiras seguindo cálculos e proporções que apenas alguns tinham conhecimento. O resultado é de uma beleza única neste tipo de embarcação. Hoje já não são mais construídas, trocadas que foram por barcos mais ágeis e econômicos. Uma pena que que estes elegantes saveiros hoje limitam-se a poucas unidades e que lutam de maneira heróica para sobreviver. A ONG Viva Saveiro, através de empresários e apaixonados por estas embarcações, dedica-se a preservar este patrimônio cultural da Bahia. Em seus tempos áureos, quando quase todo o comércio era feito por eles, o número de saveiros chegava a quase duas mil unidades em Salvador. Hoje não devem chegar a vinte, apesar do esforço para que estes barcos permaneçam navegando. E a participação deles é sempre uma festa e uma alegria para quem observa toda a elegância de suas linhas e de suas velas retangulares.
A chegada foi emocionante. Nunca tinha imaginado a festa que é esta regata, centenas de barcos ancorados próximos uns dos outros e várias escunas e lanchas com um som a todo volume. A descida em terra, então, é indescritível. A população estava toda ao longo cais que avança rio adentro, dançando , bebendo e cantando, as músicas no máximo volume, o que de certa forma nos surpreendia pela bagunça daqueles momentos festivos. O pessoal bebe até não poder mais e acabamos voltando para o barco mais cedo, pois estávamos exaustos pela regata e por aquela confusão reinante. No domingo dormimos até mais tarde a depois fomos dar uma volta pela cidade.